Pe. Manuel Julián Quiceno Zapata
Cartago(Colômbia)
Do que vivi antes da confissão, recordo o seguinte…
Como pároco duma pequena aldeia, frequentemente, cada domingo, saia pelas ruas e aproveitava para cumprimentar as pessoas, deixando-lhes uma catequese escrita, especialmente àqueles que por diversas razoes não iam à igreja.
Naquela paroquia dedicada a São José, muitos tinham um costume que cumpriam sem faltas todo domingo, como se fosse um dever. Isto era tomar “umas geladas” – assim chamavam eles à cerveja –. Portanto, era fácil saber onde encontrar este tipo de “fiéis” e entre eles estava também ele.
Certo dia, ao terminar meu percurso, se aproxima uma senhora para perguntar-me se tinha reconhecido ao “diabo”. Segundo ela, eu o havia cumprimentado e ele tinha recebido uma das minhas mensagens que eu repartia. Eu não havia visto ao “diabo”, ou pelo menos não recordo haver visto a nenhuma nem a nenhum parecido com ele.
Noutra ocasião necessitava ir ao vilarejo vizinho para ajudar a um irmão sacerdote, mas o carro da paróquia não funcionava e por isso necessitava de alguém que me levasse.
Que grande surpresa quando, ao perguntar a algumas pessoas quem poderia me ajudar com esse serviço, imediatamente um menino me disse: “Padre, se o senhor quiser chamo o ‘diabo’ para que o leve”. Não se imaginam o que pensei naquele momento. Parecia uma brincadeira, mas logo aceitei a proposta e esse dia o vi pela primeira vez…
Por um bom tempo, guardei silencio, pois era a primeira vez que fazia uma viagem assim. Ademais pensei: de que posso falar com o diabo? Ao pouco tempo o falei, mas parecia mais uma entrevista do que um diálogo. Esse dia, ao terminar a viagem e sem dizer nada, deixei no seu carro um escapulário da Virgem do Carmo.
Dai adiante, o via em todas as partes; já o reconhecia e, ainda que sempre o convidava à Missa, ele sempre me dizia “agora não, algum outro dia o farei, tenho minhas razões”.
O tempo passou e certo dia um menino que esperava na porta da igreja me disse que alguém necessitava urgentemente e que não queria ir-se antes de falar comigo. O menino me explicou que se tratava de um enfermo grave. Então, rapidamente busquei tudo o necessário para a visita.
Como fiquei assombrado quando, ao chegar naquele lugar, descobri que o enfermo grave que há vários dias esperava o sacerdote se chamava Ramón, aquele a quem chamavam “o diabo”; um homem do campo que havia vivido situações humanas muito difíceis. Não recordava quando nem por que lhe haviam começado a chamar assim, mas ele se tinha acostumado. Agora, prostrado numa cama, padecia de um terrível câncer e se aproximava o seu final.
Recordo muito bem o que ele me disse aquele dia: “Padre, lembra-se de mim? Sou aquele a quem chamam ‘o diabo’, mas minha alma não a deixarei a ele, mas pertence a Deus! Por favor, pode me confessar?”
Foi um momento muito especial, mas ainda quando vi o que apertava nas suas mãos enquanto se confessava: um escapulário; precisamente aquele que eu havia deixado no seu carro. Agora ele o portava no seu viagem à eternidade. Logo, naquela casa também pude ver uma folha sobre a confissão, uma daquelas que eu mesmo lhe havia dado algum domingo ao meio-dia.
E esse dia todo o vilarejo comentava e também eu o pensava: “confessei o diabo!”
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