10/21/2013

A importância de escolhermos a melhor parte


Nós gostamos de levar vantagem, de nos sair bem nas coisas, de ser reconhecidos, elogiados, de ser os primeiros e de ter sempre a última novidade para contar. Em resumo: gostamos do que consideramos ser “a melhor parte”; no entanto, nem sempre o que achamos bom, de fato, o é.

Vivemos preocupados com tantas coisas, a ponto de, muitas vezes, perdermos a paz. Contudo, nada disso não é essencial.

Há, realmente, a melhor parte que precisamos escolher, porque dela provém todo bem e toda graça para a nossa vida. “Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: ‘Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!’ O Senhor, porém lhe respondeu: ‘Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada’” (Lucas 10, 38-42).

Aprendamos, com Maria, a ficar sempre e em tudo com a melhor parte: Jesus, o único e Sumo Bem.



10/14/2013

Pentecostes, fato histórico ou ficção literária?


No início do seu Evangelho, Lucas diz que fez cuidadosa investigação de tudo, para que o leitor possa perceber a solidez dos fundamentos da fé. No primeiro capítulo dos Atos dos Apóstolos, o Evangelista Lucas afirma que no seu primeiro livro apresentou tudo que Jesus fez e ensinou. Tudo? Sabendo que Lucas sabia que muitas coisas da vida e das palavras de Jesus não foram relatadas no seu livro anterior, podemos entender a palavra “tudo” em relação ao evangelho dele: que tudo ali é relatório de fatos acontecidos e de palavras de Jesus, tudo colhido em informações de testemunhas consultadas por Lucas.
Não faz muito tempo que duas teorias dominavam o campo da exegese dita científica e eram copiadas cegamente pela maioria: Que o evangelho atribuído a Lucas e os Atos dos Apóstolos seriam de dois autores diferentes, e que o autor dos Atos teria fingido que era companheiro de Paulo para angariar credibilidade. Alguns ainda continuam chamando Lucas de mentiroso, alegando como atenuante que os autores daquele tempo não cuidavam da fidelidade histórica dos seus relatos.
O pano de fundo dos argumentos contra a verdade histórica de muitos textos do Novo Testamento é o preconceito pseudocientífico da impossibilidade de milagres. Eliminando a possibilidade de uma intervenção direta do poder de Deus para realizar e confirmar a Revelação Divina no Jesus histórico, precisam substituir os “milagres” por causas naturais.
Qualquer teoria derivada da exegese histórico-critica do protestantismo alemão com sua pretensão de explicar tudo por métodos de crítica literária e de ter para tudo uma explicação que dizem científica serve para jogar o Novo Testamento na vala comum da mitologia.
O primeiro pressuposto para tais teorias é a demora entre os acontecimentos históricos e a redação dos textos evangélicos, um tempo suficiente para a formação de mitos. No século XIX surgiram teorias que colocaram a redação final dos evangelhos no segundo século.
Muitos copiaram tais teorias e só recuaram diante de provas irrecusáveis para recolocar a redação dos evangelhos para o primeiro século. No entanto, ainda prevalecem teorias que dizem que os evangelhos foram escritos meio século depois da morte e ressurreição de Jesus.  Ressurreição ???
Quanto mais complicada a teoria, melhor. Fica mais difícil de ser questionada por pessoas sem doutorado e pósgraduação em ciências da religião. Entre as teorias mais complicadas temos a história das fontes com suas variantes e seus adeptos.
Tenho um conhecimento razoável das teorias de exegetas, mas ainda acredito que a razão de tanta semelhança entre textos de autores diferentes tem explicação melhor que a teoria de cópias de pedaços entre os diversos autores. Os relatos são parecidos porque todos se referem aos mesmos fatos e discursos presenciados pelos autores ou recebidos por eles de outros ouvintes da Palavra de Deus em Jesus e testemunhas dos sinais realizados pelo poder de Deus.
O mal não está nas teorias produzidas por especialistas estudiosos. O mal é que são apresentadas como se fossem a última verdade. São muito propagadas em comentários bíblicos e divulgadas em catecismos e manuais de pregação. Tenho muita curiosidade, mas ainda não encontrei nenhuma prova racional para tanta demora entre a vida terrena de Jesus e a redação dos livros do Novo Testamento.
Não há razão objetiva para duvidar que os Atos dos Apóstolos tenham sido escritos depois do Evangelho de Lucas. Quanto à data da redação dos Atos, tenho uma pergunta muito simples: Por que será que o livro termina com a prisão de Paulo em Roma e não fala nada do martírio dele e de Pedro ? Como se explica tal omissão estranha, se o livro foi escrito vinte anos depois da morte dos dois?
Se podemos confiar nas afirmações de Lucas, o seu evangelho foi escrito antes do seu segundo livro, e antes do seu evangelho já existiam outros relatos sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. Não seriam os evangelhos de Marcos e Mateus?
Por outro lado, a data exata da redação dos evangelhos não é tão importante, pelo menos para quem crê na promessa que Jesus fez aos seus discípulos: O Espírito Santo vos fará lembrar e entender meus ensinamentos.
Com essa promessa de inspiração divina dos evangelhos a nossa confiança na presença da Palavra de Deus nos evangelhos não depende de teorias de críticos literários, por mais competentes e dedicados que sejam.
Na festa de Pentecostes, os cristãos celebram um acontecimento histórico, ou uma peça de literatura edificante da religiosidade popular?
Ainda no primeiro capítulo dos Atos, Lucas diz que Jesus, antes de subir ao céu diante dos Apóstolos, prometeu a vinda do Espírito Santo, dentro de poucos dias.
No segundo capítulo, Lucas conta o que aconteceu dez dias depois, 50 dias depois da Ressurreição. A vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, marcada por sinais impressionantes, fez dos discípulos medrosos missionários corajosos, inteiramente dedicados à sua missão de anunciar o evangelho ao mundo inteiro. Eles tinham feito a sua parte. Estavam preparados com dias de oração para acolher o dom do Espírito Santo.
No nosso século, o mundo está cheio de doutores da lei que não acreditam que foi assim que aconteceu. Não sabem dizer como foi, mas pretendem saber que não foi assim como está escrito. Então, Lucas foi um mentiroso, escritor de fábulas piedosas?
O abismo criado por modernos escribas e doutores da lei entre o Jesus histórico e o Cristo da fé tomou conta da exegese moderna que esvazia o valor histórico dos evangelhos com preconceitos pseudocientíficos que sufocam a simplicidade da fé apostólica.
Tudo que tem cheiro de milagre, de intervenção direta de Deus na história da humanidade, é substituído por explicações “científicas” trazidas da parapsicologia e da medicina. Onde não encontram explicações naturais, falam de mitologia, de produto do imaginário de crenças e tradições populares sem fundamento histórico. A palavra “sobrenatural”  já não pode ser usada na teologia, por ser conhecida com significação deturpada para coisas de assombração.
Fico impressionado com a alegação simplória que duvida da verdade histórica de textos evangélicos aparentemente divergentes sobre o mesmo acontecimento ou sobre o mesmo discurso de Jesus.
Quanto à vinda do Espírito Santo, por exemplo, alegam contradições entre Lucas e João. Segundo João, o Espírito Santo teria sido derramado sobre os apóstolos já no dia da ressurreição: Recebei o Espírito Santo.  A quem perdoardes os pecados...  Segundo Lucas, a vinda do Espírito Santo teria acontecido 50 dias depois. Portanto, um dos dois estaria errado, ou os dois.
Na leitura das Escrituras, assim como na vida, quem procura dificuldades, acha. O evangelista João, conhecedor dos Atos dos Apóstolos, não viu contradição, e também não viu necessidade de repetir o que já estava no texto de Lucas, assim como não repetiu o relato da instituição da Eucaristia que já estava nos outros evangelhos.  Realçou o dom especial do Espírito Santo para os Ministros do Sacramento do Perdão, confirmados na sua missão, apesar da fraqueza revelada na hora decisiva.
A Igreja de hoje também fala da presença do Espírito Santo já no Batismo. Mesmo assim, faz questão de um momento especial do Dom do Espírito Santo no Sacramento da Crisma.
Por outro lado, já surgem inovadores que querem abolir a Confirmação como Sacramento separado do Batismo. Outros querem aumentar cada vez mais a idade exigida para crismar, como se esse sacramento fosse um prêmio reservado aos heróis que por força própria conseguiram manter-se fiéis nas turbulências da adolescência.
A confirmação é uma realização especial da presença do Espírito Santo para os anos das primeiras decisões pessoais importantes para a vida toda e para superar as dificuldades próprias dessa idade.
È por isso que as orientações sábias da Igreja não exigem mais que 12 anos de idade para a Confirmação.
A questão das interpretações divergentes dos textos evangélicos nas igrejas cristãs e dentro da própria igreja católica devia ser tratada com mais profundidade, mas não resisti ao impulso de colocar algumas considerações, provocado por teorias alheias à fé católica apresentadas por aí ao nosso povo justamente na festa do Espírito Santo.
Acredito na inspiração divina do Evangelho que merece nossa confiança como Palavra de Deus para nós.





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